A princesa se preparava para entrar na Igreja de São Gregório de Tigran Honents. Noite de estrelas, lua crescente. O casamento estava próximo, mas ela não queria. NInguém podia vê-la ali. Escondida, a princesa aguçava seus sentidos. O som dos grilos, o som do rio, o som do vento. Um cântico profundo que brotava sob seus pés. Enquanto cantassem as vozes ancestrais, ela podia correr. Aquela era a igreja da promessa.
Eles não falavam a mesma língua. Eles não tinham a mesma religião. Mas se amaram. Loucamente, com os olhos, com as bocas, com os corpos. Ela, princesa. Ele, sultão.
E na Igreja de São Gregório de Tigran Honents, sob os afrescos vívidos das histórias bíblicas, sob os olhares atentos de Jesus, de Maria, dos apóstolos, dos anjos e dos pássaros que lá tinham seus ninhos, eles fizeram a promessa. Tinha uma beleza nos olhos cor de mel de ambos, na tez clara dela, na tez morena dele. Nas vogais de seus suspiros e gemidos, de seus sorrisos e de suas lágrimas ternas e mornas. Queriam ficar juntos, queriam criar uma outra nação, outro reino, outro império, uma planície de margaridas só para eles dois, e se alimentarem do mel das abelhas selvagens, tão caridosas. São Gregório, proteja-nos!
A princesa, ofegante, entrou na igreja.
Ele não estava lá.
Nos tempos imemoriais, os homens cumpriam suas promessas a não ser que.
Angustiada, ela adormeceu atrás do altar. Que meus sonhos me levem daqui, pensou.
Que seus sonhos a tragam aqui, sempre, ouviu.
Voz feminina.
Abriu os olhos. Uma jovem alta, loura, cabelos raspados, olhos azuis, roupas em farrapos, olhava lúcida e carinhosa para ela.
Ele. Ele não pode vir. Ele jamais poderá vir. Ele está preso à lua crescente, à estrela, ao vermelho do sangue das conquistas.
A princesa sentiu a dor das impossibilidades.
Não, não sofra. Doa apenas. Impossível não existe.
Joana?, balbuciou a princesa, sem controle sobre suas palavras.
Sou eu. Sabia que você se lembraria de mim -- foi você quem me sorriu antes da fogueira me arder. E eu me prometi curá-la da dor, fazer de tudo para voltar ao momento do corte mais profundo e lhe dizer que o impossível não existe.
Mas ele...?
Ele foi no momento que tinha que ser, princesa.
Os cânticos lá de fora se fizeram mais forte. As estrelas também cantaram. A lua, a lua crescente, a lua-luta que aprisionava seu amante, até a lua ajudou a entoar o lá. O lá e o sol. Dó.
Mas e eu...?
Você, princesa, você voltará sempre aqui quando o amor se anunciar. Essa será sua compensação, por assim dizer. Você, sempre princesa. Você, de tempos em tempos aqui. Trazida pelo vento, pelas abelhas, olvidada dos passados todos. Mas escutará os cânticos que ouve agora, se lembrará do sultão, voltará a ser princesa e amará. Amará loucamente. Amará perdidamente. Para depois se esquecer e ser esquecida, mas eternizada nas doçuras dos amantes. Como o sultão lhe pensa agora: doce, melada de amor e de desejo, de sonhos e da ausência dele.
Joana...
Eu não sofri, princesa. Porque você brilha sempre. E eu amava naquele momento, e você brilhou para mim. E você me adoçou, me adocicou e me salvou.
Uma nota fora do tom dos cânticos da terra acordou a princesa. Assustada, não enxergou mais nada. Pediu uma vez mais proteção a São Gregório e deixou a igreja. Correu, correu, correu, escapando do casamento arranjado, do corte profundo, do destino fatalista.
Eles não falavam a mesma língua. Eles não tinham a mesma religião. Mas se amaram. Loucamente, com os olhos, com as bocas, com os corpos. Ela, princesa. Ele, sultão.
E na Igreja de São Gregório de Tigran Honents, sob os afrescos vívidos das histórias bíblicas, sob os olhares atentos de Jesus, de Maria, dos apóstolos, dos anjos e dos pássaros que lá tinham seus ninhos, eles fizeram a promessa. Tinha uma beleza nos olhos cor de mel de ambos, na tez clara dela, na tez morena dele. Nas vogais de seus suspiros e gemidos, de seus sorrisos e de suas lágrimas ternas e mornas. Queriam ficar juntos, queriam criar uma outra nação, outro reino, outro império, uma planície de margaridas só para eles dois, e se alimentarem do mel das abelhas selvagens, tão caridosas. São Gregório, proteja-nos!
A princesa, ofegante, entrou na igreja.
Ele não estava lá.
Nos tempos imemoriais, os homens cumpriam suas promessas a não ser que.
Angustiada, ela adormeceu atrás do altar. Que meus sonhos me levem daqui, pensou.
Que seus sonhos a tragam aqui, sempre, ouviu.
Voz feminina.
Abriu os olhos. Uma jovem alta, loura, cabelos raspados, olhos azuis, roupas em farrapos, olhava lúcida e carinhosa para ela.
Ele. Ele não pode vir. Ele jamais poderá vir. Ele está preso à lua crescente, à estrela, ao vermelho do sangue das conquistas.
A princesa sentiu a dor das impossibilidades.
Não, não sofra. Doa apenas. Impossível não existe.
Joana?, balbuciou a princesa, sem controle sobre suas palavras.
Sou eu. Sabia que você se lembraria de mim -- foi você quem me sorriu antes da fogueira me arder. E eu me prometi curá-la da dor, fazer de tudo para voltar ao momento do corte mais profundo e lhe dizer que o impossível não existe.
Mas ele...?
Ele foi no momento que tinha que ser, princesa.
Os cânticos lá de fora se fizeram mais forte. As estrelas também cantaram. A lua, a lua crescente, a lua-luta que aprisionava seu amante, até a lua ajudou a entoar o lá. O lá e o sol. Dó.
Mas e eu...?
Você, princesa, você voltará sempre aqui quando o amor se anunciar. Essa será sua compensação, por assim dizer. Você, sempre princesa. Você, de tempos em tempos aqui. Trazida pelo vento, pelas abelhas, olvidada dos passados todos. Mas escutará os cânticos que ouve agora, se lembrará do sultão, voltará a ser princesa e amará. Amará loucamente. Amará perdidamente. Para depois se esquecer e ser esquecida, mas eternizada nas doçuras dos amantes. Como o sultão lhe pensa agora: doce, melada de amor e de desejo, de sonhos e da ausência dele.
Joana...
Eu não sofri, princesa. Porque você brilha sempre. E eu amava naquele momento, e você brilhou para mim. E você me adoçou, me adocicou e me salvou.
Uma nota fora do tom dos cânticos da terra acordou a princesa. Assustada, não enxergou mais nada. Pediu uma vez mais proteção a São Gregório e deixou a igreja. Correu, correu, correu, escapando do casamento arranjado, do corte profundo, do destino fatalista.
E quando voltou era brasileira, tinha 33 anos, falava português e vestia uma saia marrom.
E Joana estava de novo lá, cumprindo a promessa das lembranças todas.
Das lembranças todas.
Joana, à esquerda, em sua última aparição
>>> "Just in time", na voz de Nina Simone
"I want you", na voz do Skank <<<
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